Raminho Fotógrafo - Severino Francisco de Matos (1937-2017)
5/8/20244 min read


Breve histórico
Severino Francisco de Matos nasceu em 1937, e começou sua trajetória como aprendiz de fotógrafo com apenas 16 anos, como relata em um documento encontrado no acervo de sua família: No ano de 1953 comecei minha trajetória como aprendiz de fotógrafo com "Tóta" fotógrafo, na época ainda garoto. Em 1955 fui trabalhar em um estúdio em Gravatá, cujo proprietário se chamava Sr. Elias, ele pediu ao Sr. Dilermando um fotógrafo para ajudá-lo, pois o mesmo não tinha conhecimento da arte, eu ainda não era um profissional, não me adaptei muito tempo, passei pouco tempo lá. Só em 1956 que comecei a me aprimorar mais com o mestre Marcelino Araújo, que me ensinou quase tudo do que sei hoje na arte.
Deste prematuro início é que foi se aprimorando até se tornar conhecido por Raminho Fotógrafo. O ofício se tornou seu segundo nome - um costume comum da época em que as pessoas eram comumente associadas ao seu meio de vida - mas que também leva a pensar o quão colada que era a profissão à sua personalidade, assim como era a câmera que vivia em seu pescoço por onde andasse.
Em 1958 já mais experiente, fui trabalhar na arte por minha conta, mas também continuei auxiliando o mestre Marcelino em seu estúdio que era o NIEPCE. Depois continuei por conta própria como um profissional mais experiente, segue contando no relato sobre a sua trajetória profissional.
Raminho foi fotógrafo oficial da Escola Agrotécnica e da Associação Desportiva Vitória, trabalhou como freelancer para diversos jornais locais e de Recife, registrou várias campanhas políticas, carnavais e eventos sociais, além de manter seu próprio estúdio, Foto Matos, que funcionava na Rua da Águia.
Era uma pessoa muito querida e conhecido por todos na cidade. Acredito que isso contribuiu para que seus retratos e registros de eventos tivessem sempre um ar de familiaridade, deixando as pessoas à vontade e abrindo espaço para que fotografasse onde estivesse.
Os últimos registros feitos por ele foram de 2016, apenas um ano apenas antes de sua morte, aos 79 anos de idade.
Acervo, coleção, resgate e perda de memórias
Assim como era apaixonado por fotografar, era também pelo carnaval, o tema principal das imagens encontradas em seus arquivos, seguido de muitos registros familiares, eventos diversos e fotos da cidade de diferentes épocas e origens, que colecionava de diferentes pessoas.
Destes 72 anos que contam desde o seu início como aprendiz, há vários intervalos de tempo entre as imagens que conseguimos ter acesso. Boa parte delas foram gentilmente cedidas por sua família, através de dezenas de CDs que haviam sido guardados por ele, e que conseguimos com algum esforço acessar e resgatar.
Uma mídia que até tão pouco tempo era comum e fácil de ser lida e manuseada, já começou a se tornar obsoleta a ponto de ser difícil conseguir preservá-la e acessar seu conteúdo. Penso no quanto não se perdeu de seus materiais entre mudanças de mídias como estas, preservação de negativos e imagens impressas. Penso no quanto de transformações Raminho não precisou acompanhar durante tantas décadas de um trabalho diretamente ligado aos aparatos tecnológicos e diante de tantas mudanças em relação à criação, ao uso e ao compartilhamento das imagens na sociedade.
Lamento não tê-lo conhecido em vida e poder lhe ouvir sobre essas transformações. Assim como várias outras perguntas que surgem ao observar suas fotografias e ver passar tanta história contada diante dos meus olhos. A maioria delas permanecerá sem respostas, mas suas fotos nos dão pistas para imaginar possibilidades.
A maioria das pastas foi organizada por data ou evento, mas muitas também foram nomeadas por ele a partir de temas como “Lembranças”, “Encontros em bares” e “Só Carnaval”, que nos levam a compreender seus temas e objetos de interesse preferidos. Além de pastas cedidas por outras pessoas, como Nanãe, Dulciana, Altair, Alcides Borges, Drayton, Luciene Freitas, que datam de diferentes épocas e variam entre retratos, reuniões de família, carnavais e fotos da cidade.
Há também muitas fotos antigas, feitas de forma analógica e digitalizadas por ele mesmo, encontradas em pastas nomeadas como "Scaneadas" e "Álbuns antigos", e que trazem um grande desafio para serem organizadas e compartilhadas: decifrar suas origens, o que foi fotografado por ele e o que foi cedido de outras pessoas para suas coleções, além de datas, quem são as pessoas registradas nelas e até mesmo algumas localidades. Seria necessário um trabalho de pesquisa minucioso apenas sobre seu acervo, que conta com milhares de fotos.
(Falar mais sobre a relação com o Carnaval e as mudanças registradas na paisagem da cidade)
A memória é uma ilha de edição
A vida não é uma tela e jamais adquire
o significado estrito
que se deseja imprimir nela.
Tampouco é uma estória em que cada minúcia
encerra uma moral.
No poema Carta aberta a John Ashbery, Wally Salomão fala sobre a passagem do tempo e da memória através das imagens e suas palavras parecem me aproximar das fotografias de Raminho. Amigos, boêmia, carnavais, reuniões de AA, enchentes, times de futebol, eventos sociais, ruas e pessoas anônimas. A passagem do tempo se costura em retalhos a medida que vejo estas fotografias tão diferentes reunidas por uma mesma pessoa. Parece que qualquer pessoa, coisa ou momento que fosse registrável ganhava um valor especial para ele.
Do seu acervo físico, grande parte se encontra guardado no Instituto Histórico e Geográfico de Vitória de Santo Antão. Algumas outras foram preservadas por sua neta, Allyne, com quem conversamos e que nos abriu as portas para conhecer um pouco do trabalho e da pessoa que foi seu avô. Em meio a tantas imagens, nos deparamos com uma grande quantidade de fotos 3X4 e retratos de desconhecidos, resgatados por ela e que provavelmente seriam jogados fora. (A família acreditava não fazer sentido guardar fotos de pessoas que não se sabe quem são, nem seria possível descobrir seus paradeiros e destinar a elas seus registros pessoais.)
Ficamos um bom tempo observando aquele mosaico e pensando: a quem pertecem esses rostos anônimos? Que histórias poderiam ser contadas através deles? Como lidar com as memórias alheias a nós?
*Entender quanto tempo durou seu estúdio e a mudança de nome Foto Matos para Raminho Reportagens
*Tentar contato ainda com a avó de Allyne?
Parei áudio de Allyne em: 10'35''
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